Com isolamento, registros de violência contra crianças e mulheres caem 48% no Paraná
24/04/2020 07:02 em Novidades

Ao longo do primeiro mês de distanciamento e confinamento social, o número de registros de violência contra crianças e adolescentes e de violência contra mulheres despencou no Paraná. Conforme dados levantados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) a pedido da reportagem, a redução em todo o estado foi de 48,02%, ao passo que em Curitiba houve queda de 44,11% no número de registros.

No Paraná, entre os dias 16 de março e 16 de abril de 2020 foram registrados 11.034 boletins de ocorrência relatando casos de violência contra crianças (217 registros) ou de violência contra mulheres (10.817). No mesmo período do ano anterior, houve um total de 16.333 boletins de ocorrência sobre esses tipos de violência, sendo 697 sobre casos de violência contra crianças e 15.636 de violência contra mulheres.

Já na capital paranaense, os dados da Sesp apontam que o total de ocorrências caiu de 2.849 para 1.977. Porcentualmente, a queda mais significativa se deu nos registros de violência contra crianças, com variação de -74,23%, passando de 97 ocorrências em 2019 para 25 em 2020. Já os casos de violência contra as mulheres tiveram redução de 40,98%, passando de 2.752 para 1.952.

Apesar dos dados oficiais apontarem para menos ocorrências, contudo, delegadas ouvidas pela reportagem, que já haviam comentado na última semana haver uma redução nos registros, duvidam da possibilidade de redução real nos índices de violência. Ou seja, o que estaria acontecendo é que, por conta da necessidade de confinamento e distanciamento social, menos pessoas estariam denunciando.

“Acredito que vamos ver o impacto que o isolamento social causou na violência doméstica quando a gente analisar de trás para frente”, afirma a delegada Emanuele Maria de Oliveira Siqueira, da Delegacia da Mulher, que fala em subnotificação de casos neste momento de crise em saúde pública. “Presumimos que têm vítimas que não estão conseguindo fazer a denúncia. Quando elas conseguirem, vamos ter a dimensão real do que aconteceu”, reforça.

Nesse mesmo sentido vai o raciocínio da delegada Ellen Victer, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria) da Polícia Civil do Paraná. “Pelo menos não [houve redução nos casos] da violência doméstica e familiar, que é o que a gente mais atende. Outras ocorrências, como violência nas escolas, aí não tem aula, não tem essa ocorrência. Estupro sem autoria conhecida, por desconhecido na rua, também diminuiu porque as pessoas não estão circulando”, aponta.

Coronavírus muda rotina das delegacias especializadas da Capital

Na Delegacia da Mulher, o atendimento segue praticamente igual ao que era antes da chegada do novo coronavírus em território paranaense. O único cuidado pedido é que a vítima evite levar muitos acompanhantes para evitar aglomeração de pessoas. “Pedimos que o acompanhante só venha se for indispensável, como uma testemunha, se a vítima tem algum problema de locomoção”, explica a delegada.

Já no Nucria, o trabalho está sendo feito em regime de plantão e com foco no atendimento por telefone – inclusive, denúncias anônimas podem ser feitos diretamente para a delegacia, por meio do telefone (41) 3270-3370, além da tradicional opção do 181, o Disque Denúncia.

“Se for um caso que esteja acontecendo naquele momento, flagrante delito, aciona a PM via 190, que eles vão até lá e encaminham a ocorrência pro Nucria. Se não for caso de flagrante, a pessoa deve avaliar se é um caso em que a materialidade, ou seja, as provas podem se deteriorar. Um exemplo seria o estupro na rua, que câmeras de segurança gravam imagens só por um determinado tempo, então precisaria de uma ação imediata da polícia para não perder as provas. Em caso de dúvida, não sabe se está nos requisitos para ser grave, urgente, liga na delegacia, fala com o plantonista”, orienta a delegada.

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